Ser uma empresa lucrativa e também ajudar a resolver um problema que afeta 11 milhões de famílias no Brasil. Esse é o objetivo do Programa Vivenda, negócio que atua desde 2014 na comunidade do Jardim Ibirapuera, zona sul de São Paulo.
Fundada pelos empreendedores Fernando Assad, Igiano Lima e Marcelo Coelho, a empresa oferece reformas de baixo custo para famílias que vivem em favelas, muitas vezes em condições insalubres.
E não é porque o negócio tem foco num problema social que ele não dá resultado. A empresa espera fechar 2016 com faturamento de 1 milhão de reais, e vai abrir sua segunda unidade no mês que vem. Nada mal, não?
A ideia do negócio veio após um longo período observando o problema. Igiano Lima e Marcelo Coelho trabalharam durante anos na CDHU, com urbanização. Já Fernando Assad tinha uma consultoria para projetos socioambientais.
“Percebemos que os programas de urbanização melhoravam o lado de fora dessas comunidades. Mas da porta para dentro as casas continuavam sem iluminação adequada, com umidade, mofo. É um problema que afeta 11 milhões de famílias e que não tem solução proposta pelo estado ou organizações sociais”, afirma Assad.
Para iniciar o negócio, os sócios fizeram um empréstimo de 150 mil reais no banco. Depois, em 2015 eles captaram investimento através de uma campanha de equity crowfunding no Broota, na qual conseguiram 445 mil reais, com 39 investidores, que incluem desde pessoas físicas até companhia de cimento InterCement.
Agora, os empreendedores se preparam para abrir uma nova rodada de investimento no ano que vem.
O modelo funciona assim: a empresa oferece alguns kits de reforma, como banheiro e cozinha, por exemplo. Cada kit tem custo médio de 5 mil reais, que pode ser parcelado em até 15 vezes pelo cliente. A obra fica pronta em cerca de 5 dias.
Além da saúde da família, que é afetada quando a casa passa a ter um banheiro adequado, por exemplo, as reformas promovidas pelo Vivenda têm grande impacto na autoestima de quem vive ali.
“Imagine uma casa completamente insalubre e você coloca um ponto de luz ali. Um banheiro com louça nova, por exemplo. Aquilo se torna uma faísca para as pessoas se desenvolverem, dá força para irem atrás de reformar o restante da casa e quererem algo melhor”, afirma Assad.
Hoje as reformas têm parcelas e cerca de 300 reais. Agora, o Vivenda fechou uma parceria com a Din4mo que vai permitir dividir o valor em mais vezes, diminuindo a parcela e permitindo que mais gente tenha acesso às reformas.
Os pedreiros e ajudantes são da própria comunidade e ganham de 1.600 a 2.400 reais por obra. “Cada pedreiro faz de quatro a cinco obras por mês, o que dá um montante de 10 mil reais por mês para eles. É um dinheiro que fica na própria comunidade e ajuda no desenvolvimento local”, afirma o empreendedor.
Assad ressalta que os pedreiros são treinados pela empresa, e orientados para se formalizarem como MEI (Micro Empreendedor Individual).
Com um preço baixo para o cliente e boa remuneração para os pedreiros, surge a dúvida de como o Vivenda fecha a conta. Assad responde: “Somos um negócio social, e por isso trabalhamos com uma margem de lucro baixa. Para a empresa se manter de pé precisa de escala”, explica.
O empreendedor afirma que o equilíbrio das contas foi atingido este ano, quando o Vivenda atingiu a marca de 40 obras por mês. Hoje, a empresa conta com oito fixos, fora 24 pedreiros e ajudantes que atuam como prestadores de serviço. “Hoje a empresa é nossa atividade principal. Podemos dizer que o negócio social é um modelo que dá certo, sim”, afirma.
O programa Vivenda fechou 2016 com 430 obras realizadas. O sucesso da experiência no Jardim Ibirapuera fez com que os sócios decidissem abrir uma segunda unidade, desta vez no Jardim Lapena, próximo a São Miguel Paulista, na zona leste da capital. Anunciada essa semana, a unidade deve começar a operar em janeiro.
“Vamos estudar como essa unidade se desenvolve em 2017 e, em 2018 podemos franquear o modelo para expandir mais”, afirma o empreendedor.